Minhas neblinas e tempestades em tufão/ Aqui/ cai granizo/ cai sereno/ molha a (se) mente/ nasce a brisa/ ora faz sol/ ora chuva torrente/ impalpável nuv-em-oção.

quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

O verdadeiro olhar artístico

  
    Basta apenas dar uma volta dentro de um museu de arte, seja moderna, sacra, contemporânea. Ler literatura de cordel ou poesia concreta. Observar os diversos grafitis nos muros solitarios das grandes avenidas.Ouvir Beethoven, Mahler, Wagner, Samuel Barber, Chico Buarque ou Mamonas Assassinas para entendemos como a arte é bela e se manifesta nas suas mais diversas formas. Seja numa tela de Da Vinci, naquela grande Aranha do MAM, no mural do Estudio Kobra na avenida 23 de Maio, no "Ephitalamium", de Pedro Xisto, na melodia envolvente do Addagio para Cordas op11, na rebeldia de "Não deixar os cabelos do saco enrolar..." temos o surgir da arte, a manifestação do pequeno vazio na humanidade sendo preenchido, da fusão dos nossos espíritos com combinações inusitadas resultando na mais perfeita harmonia e desordem surreal.
    Hoje vi uma cena comum, mas algo diferente surgiu em minha mente. No metro havia um homem de meia idade, com um braço amputado, uma cicatriz enorme no couro cabeludo e uma aparente paralisia facial da região esquerda do rosto. Todos olhavam para ele com uma expressão decifravel: dó, repulsa, asco, espanto ou indiferença.

 Agora você, caro leitor, tem todo o direito de fazer a tal pergunta: "Qual a relação entre arte e este homem?"

Bem pensado. Parece um tanto desconexo, mas será que alguém possuiu esses mesmos sentimentos ao observar uma tela de Van Gogh? Sentiu dó ao ouvir a " Ode to Joy" de Beethoven? Asco, enquanto lia Machado de Assis?
                                    Creio que não.

  Quando temos uma criança com paralisia cerebral sorrindo, um cego caminhando com independencia na rua, um deficiente sentado num banco de praça, um portador da Sindrome de Down correndo para os braços de sua mãe, temos a vida, o mais valioso engenho que a humanidade jamais teve. É a prova viva de que este sopro de animo também se manifesta das mais diversas formas, tem sua beleza absoluta independente dos padrões que são mais comuns na sociedade.
    Me adimiram as pessoas que sabem compreender a arte, mas não entendem que a vida também tem diferentes formas, meios, timbres, cores, formas e símbolos.É infinitamente mais rica e vale mais que o Retrato de Adele Bloch-Bauer, por Gustav Klimt, avaliado em 135 milões de dólares.
    Diferenças e limitações à parte, somos a mais bela composição e temos a harmonia viva inflamada dentro dos nossos corações.É por este elo que vida e arte estão tão solidamente interligadas.

                                 Uma solene homenagem à vida de todos nós.


Um bom início de ano e continuação dos dias a todos!!!


Lucas Bigai




O que você sentiu ao observar o quadro acima?









  
(Ilustração retirada do site www.apbp.com.br, feita por artistas deficientes que utilizam bocas e pés para pintar.)





O que você sente agora?