Minhas neblinas e tempestades em tufão/ Aqui/ cai granizo/ cai sereno/ molha a (se) mente/ nasce a brisa/ ora faz sol/ ora chuva torrente/ impalpável nuv-em-oção.

quarta-feira, 28 de agosto de 2013

Per-da-diva



 
  Num dia desses eu estava no metrô em pleno formigamento humano de horário de pico. No empurra-empurra clássico para tentar conquistar o espaço, ou melhor, um par de pedaço de chão qualquer que caibam nossos pés e possamos nos apoiar, o trem brecou e pisei discretamente na ponta do pé de um cara que estava na minha frente. Ele, na mesma hora, soltou um palavrão, fez um tique com a boca e ficou me encarando. Minha primeira vontade foi ficar encarando aquela cara de poucos amigos e muita barba, para ele pensar que eu não sou nenhum idiota.
    Um instinto de milésimos de segundo me fez voltar atrás.
    Pensei que não era capaz de dar uma lição no valentão, não digo por falta de força física ou altura ou por não ter cicatrizes no rosto como ele. Eu não seria capaz de mudar sua cabeça com um apavoro ou um punhado de socos. Se tentasse usar palavras, então, gastaria saliva, pois ele já tinha passado da idade infante em que a mamãe ensinava o que era certo e o que era mau. Ele já era um homem crescido.
    E ele continuava me encarando,
talvez porque seu sapato fosse o mais novo presente que mamãe deu e já não queria que ninguém encostasse as mãos encardidas, muito menos os pés sujos.
    Quem anda no metro, antes de mais nada, deve ter a consciência de que não está num voo de primeira classe. Pessoas vão te espremer, especialmente aquelas mais afoitas que vem de estações de integração trem-metro. Sua mochila vai enroscar em alguém e bolsas e sacolas vão atrapalhar sua mobilidade, enroscando em você também. Nem sempre você alcançará a barra de ferro pra se segurar. Pessoas entram e saem com perfumes e suores dos mais diversos tipos. Você é quase obrigado a ouvir fofocas sobre trabalhos alheios, brigas de casais e muitas outras coisas que nada adicionariam na sua vida. Cabelos e bonés poderão roçar na sua cara. Você poderá ser pisado, inclusive por salto alto. Nem vou comentar sobre as notáveis flatulências. Se quiser evitar tudo isso saia de carro ou, mais ecologicamente correto e menos seguramente correto, vá ao serviço de bike.
     Então, se ele não aceitava essas possibilidades e mesmo assim estava fazendo uso do trem, porque deveria eu perder meu tempo com uma pessoa, que não aceita as condições do ambiente em que se encontra e pensa que tudo e todos ao seu redor devem ser guiados pelas vontades do seu proprio ego? Pra piorar, ele tentou usar uma estrategia baixa, o intimidar, aquele braço inicial da violência, acreditando que isso realmente reverteria alguma coisa.
     Ele desceu,
com uma expressão de vitória e mesmo depois da porta fechar ainda ficou me encarando, como quem diz: "Qual é? Não foi capaz de me superar?". Realmente, felizmente não fui capaz de o superar, nem em altura,  nem em força, mas acima de tudo, nem em ignorância. Vi que o problema não estava no motorista que brecou, nem na sola suja do meu pé. Estava completamente dentro dele, esse amargor, essa raiva que o corroía e suas atitudes brutas nasciam da tentativa de tapar o vazio daquela cabeça dura.
    Não era eu que iria mudar aquilo, um dia ele encontraria alguém mais raivoso e foglado que ele e. Por que, então, me deixaria também ser tomado pela mesma raiva, pelo amargo interno, pelo mesmo vazio, comprando brigas sem objetivo e me arriscando por nada?
Eu sorri por dentro
Realmente tinha perdido o duelo
mas foi perdendo que ganhei algo muito mais importante:

paz.
 

terça-feira, 27 de agosto de 2013

Dívida

Dedico àquela que esta por aí 
e num dia qualquer cruzará meu caminho.
 Só não me encontre
 por enquanto.
 Talvez não há espaço.

Prometo:

te amar até
                    o
                                                   ultimo


           

instante

                 mesmo
quando

o fim

fatídico

                          do                                     amor



chegar

juro           não puxar

ao menos

               sua parte
                               do
                                                cobertor

nas

noites frias

terça-feira, 13 de agosto de 2013

Sobr-ar





Sobre todo esse cansaço
jogo meus ombros

Sobre toda essa ansiedade
jogo minhas unhas roídas

Sobre cada tiquetaque
jogo os ponteiros que me guiam

Sobre todo meu ego (ismo)
jogo minha indiferença

Sobretudo
 
mesmo
que
sobre tudo


Sobre o chão
finalmente

jogo me todo

a flutuar.

sábado, 10 de agosto de 2013

Movida





Afinal

que                                    vida
não é                  mo(vida)
a           no(vida)des



?



E  tem gente que ainda
           du(vida).