Minhas neblinas e tempestades em tufão/ Aqui/ cai granizo/ cai sereno/ molha a (se) mente/ nasce a brisa/ ora faz sol/ ora chuva torrente/ impalpável nuv-em-oção.

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Desumanização gritante


Nós que temos casa, comida, cama e edredom não temos noção do que é viver nas ruas  : sem tetos ou paredes; duras; famintas; ora absolutamente frias ou torturantemente quentes.
Nosso mundo é o mais belo quando estamos sob proteção.
Essa é a cena que vejo freqüentemente, longínqua mas nítida, da janela da minha área de serviço.Estou, porém, sob meu teto, meu teto, um teto, teto.

Ah, se ela soubesse que quando ela passa...

    Mesmo no meio do burburinho  motor-passageiros-rua, pude ouvir pela janela do ônibus no qual estava, que um bando de "marmanjões" parados no ponto, com seus vinte e poucos anos, levantaram uma massa sonora.Poderia ser um elogio, mas poderia ser uma  grande chacota também, como o último palavrão pronunciado demonstrou.Começara com: "hey gatinha", "gostosa", "ê lá em casa"... até um dos imbecis se irritar - pelo fato de que a elogiada os ignorava - e pronunciar a palavra que denigre toda e qualquer qualidade moral de um ser humano: "Vagabunda!"
    Tudo se explicou quando olhei para a entrada do ônibus.Lá estava uma moça, bem arrumada, com uniforme de serviço e um punhado de maquiagem no rosto.Ela era bonita, sim, mas não vem ao caso.O fato é que se ela se produziu toda, creio que não o fez para ser motivo de desrespeito nas ruas,  tal como fora exposta e não pudera conter tanta vergonha.Um dos senhores que se sentava próximo argumentou - com ar de indignação - para o idoso ao lado:
 - Eita! Isso é falta de mulher no mundo!
   O ouvinte, com rosto grave, murmurou em resposta " Se o bom senso andasse sobre pernas pelas ruas, ele seria mais requisitado do que a mulher mais atraente, pois ele é quem está em falta.Acéfalos!"

"O elogio de um tolo prejudica mais do que a sua crítica" - Jean-Pierre Florian


*Título extraido da música Garota de Ipanema, de Tom Jobim.
Procurei uma imagem que pudesse ilustrar esse caso e não obtive sucesso.Mas é algo tão trivial que você, com  absoluta certeza, já presenciou algo do gênero nas ruas, de onde quer que seja.

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Doisemum

Costure as palavras no lado de fora das mãos
e as esqueça.Um dia o sangue escorrerá.
Passe na folha e registre somente os versos sãos.

No mundo :

Há pessoas boas,
há pessoas más.
Dizia minha vó.

Hi Caio! (título arbitrário)

se eu ando despido
quero que chuva e vento afaguem
meu peito aquecido.

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Ars Oblivionis : ou "Quando Fiódor descobriu que até a arte está sujeita ao ostracismo."

   - Manhê, gosto muito de um quadro do Monet, o "Impressões do pôr do sol"(livre tradução).Você poderia pintá-lo pra mim?
    Ela aceitou, mas o faria após terminar a tela que estava trabalhando, um óleo sobre tela que decoraria a parede da sala.
    Tudo fluia favoravelmente: a tela branca foi comprada, a imagem ja havia sido imprimida e antes que o verão acabasse nosso jovem teria seu tão desejado quadro reproduzido pelas mãos de sua amada mãe.
    Após uma manhã turbulenta,  pois sua família foi roubada, com nervos a flor da pele a mãe gritou para o filho,  recém chegado da rua, sujo e com a face dotada de um sorriso doentio e inconseqüente : "O que é isso em suas mãos?"
    A tela comprada ficaria vaga para o próximo trabalho, a imagem imprimida iria para o lixo.Sobraria mais tinta na maleta de sua mãe, que teria seu tempo poupado.
    A obra, habitante dos sonhos do rapaz, estava na frente de seu corpo, já concluído, assinado, sem moldura, aguardando o gosto do mecenas.Todos ficaram boquiabertos, pois souberam que fora encontrado numa lixeira, solitário e triste no meio de tanta matéria renegada e em decomposição.Quem o deixou com metade de seu todo exposta, como uma cabeça que grita pra fora da areia, talvez tivera remorso e assim o posicionara para que algum andante pegasse - tática de sucesso.Talvez tivesse consciência que a arte tem o dom da eternidade, não o da reclusão.


"Em arte, procurar não significa nada. O que importa é encontrar." - Pablo Picasso


*Ars Oblivionis: {latim} Arte do esquecimento.


Sou a testemunha viva de tudo isso.

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

O Dom do sono

É incrivel como quando estou com sono tenho tanta vontade de escrever.Talvez nesse estado de vigília, eu esteja livre de meus demônios e obrigações cotidianas; ou : o fantástico universo onírico já  abre suas portas.
Oscilo entre realidade e fábula e nesse cinza sutil, as idéias seguem o traço do grafite e se libertam da cabeça-prisão.



Ai se minhas pálpebras soubessem empunhar uma caneta!

"Nós somos do tecido de que são feitos os sonhos" - William Sheakpeare

Esse texto foi escrito ontem, junto com o post antecedente, mas mereceu ficar isolado num único post.

domingo, 6 de fevereiro de 2011

Laurie Lipton - dá-lhe grafite!

Uma vez aqui, preciso colocar algo interessante, já que estou farto dos meus versos por hoje.


Foi feito por uma desenhista nova iorquina chamada Laurie Lipton.
Com uma temática um tanto peculiar, obscura e morbida, produz trabalhos interessantes.
Confiram o link com mais algumas fotos no Bistrô Cultural 

Sombrio, intrigante : belo.

O arrebol é a vergonha do sol.

Por mais altivo
que seja o sol, a lua
o faz fugitivo.

as f alto sem sal to

Se ando descalço
não quero que barreira alguma
me afaste do solo

terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Saudade que invade, mero alarde da mente covarde.

    Se saudade é aquilo que se manifesta em nós quando sentimos falta de algo que já se passou, a ansiedade e o desejo do futuro prospero podem ser chamados de saudade também .Estes, porém, seriam a versão dessa sensação manifestando-se no plano mais ilógico dos três tempos da nossa vida : o futuro.Digo isso porque o ontem já se justificou, já mostrou sua estrutura.O hoje ainda escreve sua linhas.O amanhã é apenas um esboço em nossas mentes.


    Saudade do futuro...como uma idéia tão sem razão à mente presa aos velhos conceitos imutáveis pode ser, assim, tão concreta?


E é só você que tem
A cura do meu vício
De insistir nesta saudade
Que eu sinto de tudo
Que eu ainda não vi.
Renato Russo